A escalada tarifária dos EUA expõe vulnerabilidades em um dos ciclos mais prósperos do setor
O tarifaço imposto pelos Estados Unidos em 06 de agosto de 2025 marca uma inflexão na relação comercial entre os dois países. A sobretaxa de até 50% sobre produtos agropecuários não ocorre em um momento qualquer: ela atinge o Brasil justamente no auge de suas exportações para o mercado norte-americano, quando o agronegócio consolidava posição inédita de protagonismo.
Em 2024, o setor alcançou um patamar histórico, exportando US$ 12,08 bilhões em produtos agropecuários para os EUA, dentro de um total de US$ 40,4 bilhões em vendas brasileiras ao país. Em volume, a evolução foi ainda mais expressiva: de 5,63 milhões de toneladas em 2015 para 9,39 milhões em 2024, um salto de 67% em peso em menos de uma década.
Essa escalada evidenciava não apenas o dinamismo do setor, mas também a confiança dos compradores norte-americanos em fornecedores brasileiros.
Principais commodities afetadas
Entre os segmentos mais dependentes do mercado dos EUA, destacam-se:
- Café em grão: com receita de US$ 1,17 bilhão, representou 16% do total exportado da commodity em 2024.
- Carne bovina: movimentou US$ 1,03 bilhão, com forte presença de cortes congelados e industrializados.
- Carne processada: aproximadamente 65% da produção destinada ao exterior teve os EUA como destino.
A nova tarifa reduz de forma imediata a competitividade desses produtos, comprimindo margens de exportadores e impondo incertezas na gestão de estoques.
Repercussões econômicas
O tarifaço cria um cenário de instabilidade que se propaga por toda a cadeia agroindustrial:
- Pressão sobre a balança comercial: menor capacidade de absorção dos produtos brasileiros em um dos principais mercados consumidores.
- Excedentes internos: volumes antes destinados aos EUA precisam ser redirecionados, o que eleva a necessidade de armazenagem.
- Volatilidade nos preços: com mais produto disponível no mercado doméstico, os preços tendem a cair, impactando diretamente produtores e tradings.
- Risco de retração de investimentos: a previsibilidade, crucial para o agronegócio, é substituída pela incerteza em relação ao acesso a mercados internacionais.
Reflexos na armazenagem de grãos
A mudança no fluxo comercial aumenta a pressão sobre a infraestrutura de estocagem no Brasil. Os principais pontos de atenção são:
- Tempo médio de estocagem mais longo, já que o escoamento internacional encontra novas barreiras.
- Demanda crescente por capacidade instalada, sobretudo em pólos exportadores.
- Custos logísticos adicionais, decorrentes da necessidade de reposicionar cargas para novos destinos.
- Maior pressão sobre silos e armazéns, exigindo eficiência no planejamento e gestão da cadeia.
Um ponto de inflexão
O tarifaço representa mais do que uma barreira tarifária: é um ponto de inflexão em uma parceria comercial que se manteve firme mesmo em crises anteriores. De US$ 6,26 bilhões em 2015 para US$ 12,08 bilhões em 2024, o salto das exportações brasileiras aos EUA simbolizava uma década de expansão sem precedentes. A decisão ameaça desestabilizar esse ciclo, com repercussões que vão além do comércio bilateral, atingindo diretamente a estrutura econômica e logística do agronegócio brasileiro.


